quinta-feira, 12 de dezembro de 2013

Amizade apesar da pós-modernidade

Na falta do tempo estendido 
para fazer o mesmo com os braços,
os olhos se fecham, 
os dedos escrevem e fica a torcida:
sinta-se!
Daqui, do lado - que é tela e não ombro -
a dor também chega
Não me pertencendo, cabe a mim cumprimentá-la
e expulsá-la, fazendo-a bater em retirada. 
Para bem longe de você.

sexta-feira, 8 de novembro de 2013

quinta-feira, 7 de novembro de 2013

Daqui

Por saber que, ainda que sejamos muitos, sempre teremos um lugar e um modo único de enxergar cada coisa,
eu precisa te escrever como foi viver tudo aquilo do meu lugar.
Na minha poltrona azul não-enumerada, que não ficava na primeira, na segunda ou na terceira fila.
Da minha poltrona, que guardava do lado esquerdo o lugar de alguém - que enxergaria, de um jeito igualmente diferente, tudo aquilo que eu enxergaria também.
Do meu jeito, claro.
Eu vi um homem-urso chorar ao citar a mãe. Vi um outro, que por algum motivo me lembra Cinema Paradiso, chorar ao saber-se homenageado. Em vida.
(homenagem boa é aquela que o homenageado pode chorar, sorrir e, assim, ser grato quando a recebe. Não existe lágrima, sorriso ou gratidão na morte) 
Depois, vi mão pegando pipoca. Aos poucos. Também vi - preferia não ter visto - quando eu, desajeitada, derrubei pipoca no carpete novinho. Vi sorrisos. Descansei.
Finalmente, vi olhos azuis. De bem perto. Tanto que os meus, castanhos, não conseguiam focá-los.
Uma das bençãos de fotografar e de absorver fotografias e olhares alheios é aprender que nem toda fotografia precisa de foco.
E, por vezes, estando o foco à mercê da fotógrafa, ele não fica imune a todo o resto. Às vezes, as mãos se perdem e, por pouco, aquele instante fica assim: blur.
Nesse caso, blue.
Sinto muito. 

quinta-feira, 12 de setembro de 2013

Se hoje chover, eu quero me molhar

Na volta pra casa, andando sozinha pelas ruas do bairro onde cresço desde que nasci, peço ao Pai que cuide de mim. Em poucos passos, a resposta: chuva. Muita chuva. Resposta das boas. Daquelas que é necessário calar pra ouvir até o suspiro entre uma palavra e outra.
Eu, desarmada, não me guardo delas. Ainda que tivesse a ferramenta necessária para me manter seca, arrisco dizer que eu preferia mantê-la fechada - como fiz brevemente com meus olhos quando os pingos aumentaram em quantidade e força.
Levantei a cabeça pra sentir por completo o banho que há muito não tomava. Desse banho, a alma é quem sente falta mesmo quando o corpo está cheiroso.
Percebi que ser cuidada requer olhos fechados e cabeça pra cima.

Trouxe a chuva pra casa, minh'alma disse "obrigada" e o coração, esquentando-a, concordou.

domingo, 25 de agosto de 2013

Parcimônia

Enquanto o plástico-bolha é tão eficaz quanto a duração de uma bolha de sabão suspensa no ar - fugaz; a esperança de quem o estoura é tão real quanto a de quem, com a ponta dos dedos, tenta guardar para si aquela forma flutuante de sonho.

Mas - com as pontas dos mesmos dedos - a estoura.

terça-feira, 13 de agosto de 2013

A primeira vez que alguém me ouviu com os olhos



O dia não era pra vencedores.
Naquele corredor, desejando com as mãos e com os pés que aquele momento terminasse logo, constatei com o corpo todo "meu Deus, que menino lindo". Transborda sal com olhos de perdão, gratidão e amor.
Assim mesmo. O combo infalível. Não seria eu, por mais forte que eu possa parecer, que resistiria. Apesar de querer às vezes.
Olhos mais doces que eu já vi me vendo.
E, para minha surpresa, me ouvindo.
"Me faz muito bem olhar pra os seus olhos. Sei que você tá me dizendo alguma coisa. E eu espero estar respondendo, porque é muito forte".

Certeiro assim. Lindo assim.

quinta-feira, 1 de agosto de 2013

Homework

No fim do dia, me sentia como quem passa o dia inteiro do lado de fora, tragando rastros de tudo ao redor. A fumaça do cigarro alheio, o amor em outros braços, a dor de cabeça do trânsito infernal, as nuvens e os pingos que eventualmente caem. Em tempos de "inverno", chuva. Em tempos difíceis, lágrimas. 
Não faz diferença se meus pés pisaram outros chãos ou se ficaram de um lado para o outro no meu apartamento quando a cabeça tem visão privilegiada das nuvens, o coração se prepara para correr maratonas e os meus olhos conversam entre si - quando sem os seus.

quarta-feira, 10 de julho de 2013

Pr'aquela que consegue voar, Taynara

Molinha de braço e coração, carrega no sorriso a força suficiente para manter as pernas curtas não só em pé mas caminhando. Marcada pela distância e pelos desenhos na pele, as pernas largam o "r" e se fazem pena quando se quer voar - ainda que com medo. Assim, se faz agradavelmente perto daqueles aos quais tem. No coração. Ali, os faz âncoras e joga também a sua, do Sul ao Nordeste. 
Grata por fazer parte dos poucos que se fazem porto, retribuo de braços, ouvidos e coração abertos, com o desejo de querer permanecer e constatar, daqui há vários filhos, netos e bisnetos - anos - que ainda és minha amiga mais moderninha. 
Let it be!

domingo, 7 de julho de 2013

De glória em glória, Glorinha


Do sorriso largo e amor às palavras que nos é comum e do gosto de infância que temos nos abraços e nos dedos, colhemos as carreiras debaixo dos pingos, o compartilhamento do guarda-chuva e as mínimas evidências de poesia-flor que encontramos por aí.
Se o presentear com prosa já era parte do meu existir, com Glória, tenho aprendido a concretizá-lo. Prova disso é isto. 
Agora, com a certeza de que dividiremos ainda muitas estações (sejam elas 5122, verão, inverno, primavera ou outono), desejo não só a força necessária para as corridas que a rotina apertada, os raros ônibus para viagem de volta, a chuva e a idade nos exigem, mas, principalmente, a força suficiente para exercitar 400 músculos apenas com sorrisos ininterruptos.

quarta-feira, 29 de maio de 2013

Aceito



Quando não caibo em mim,
Quando o mundo a mim não cabe.

Quando não caibo no mundo.

(Quando) a maré sou eu.
nadar contra torna-se uma modalidade na qual sou campeã.
em ficar no lugar mais baixo do pódio.

Mesmo não havendo rivais.

As raias nunca impediram que eu nadasse do meu jeito.
Torto.

Andar de bicicleta passa fazer mais sentido.

S o l t o o guidom.

sábado, 25 de maio de 2013

"I'm just an old chunk of coal..."*

Das coisas que me restam, às vezes não quero nada.
De mansinho, meio verdadeira, meio hesitante, meio como uma meia certeza, me vem a vontade de só, sozinha, sonhando, sendo, vivendo de verdade, chegar Lá.

Lá, ouvi-Lo me chamar pelo nome e, pegando no meu rosto com as mãos de quem já passou por tudo bem antes de mim - e não apenas sobreviveu mas reviveu, dizer:

"acabou chorare, ficou tudo lindo".



*"...But I'm gonna be a diamond some day".

quarta-feira, 15 de maio de 2013

Marcos

O dia em que pulei do Jardim II para Alfabetização. A melhor amiga da escola. Os cinco pontos no queixo e os três na cabeça. Quando abandonei as rodinhas da bicicleta. Meu pai penteando meus cabelos. O primeiro dia no colégio. Intervalos escutando música no discman. O LP com hinos de clubes de futebol. O cheiro do meu avô. O sorriso da minha mãe. Primeira vez que experimentei café. Cada namorado. Aparelho “freio de burro”. Aparelho fixo. Quando tirei o aparelho. Cabelo curto. Quando o novato bonitinho do colégio preferiu a mim. O desconhecido que disse “No fim, tudo dá certo”. Quando resolvi entregar nas mãos dEle. Casa que cresci. Copa de 2002. Vestibular. Primeiro trabalho pago. Entrevistas. Loja fechada. Avião.  (ad infinitum)
Você.

terça-feira, 9 de abril de 2013

Regador de travesseiro e flor

A urgência deu lugar à negligência, deixando a luz amarela da segunda-feira entrar - e a persiana no chão. Azul; incapaz de exercer sua função de racionar nossa luz. Sem exercer a função para a qual foi designada, perde o sentido. Reconheço que esse destino não é só das persianas. Desatino.
 
Qualquer flor precisa de água e luz. A luz da janela, amarelinha, na parede, quase tocando o ninho. Os pingos, do regador, caem em síncope - que, geralmente, nos faz dançar. Mas não dessa vez. Os pingos caem azul marinho. Se não visse de tão muito bem perto, diria que eram pingos pretos pretos pingos pingos pingos pingos pretos. Mas não. Eram azul marinho e azul marinho não é preto. Assim como pingos nem sempre são chuvas - prestatenção: mesmo que eles caiam em sua cabeça.

Qualquer flor precisa de água e luz. Por falta de água ela agora já não morre, mas de luz ainda tem fome. Não só da luz que vem das janelas do quarto sem persiana, entre outras tantas iguais por todos os lados. Mas daquelas, únicas, vizinhas do seu nariz, do é difícil que é o seu rosto.

sexta-feira, 22 de março de 2013

Aurora Boreal

Não há nada nessa vida que não caiba num haikai, numa foto ou num abraço.

segunda-feira, 4 de março de 2013

Cabeça de reticências

            Na minha casa, sempre fomos muitos. De filhos, meus pais tiveram três. 1990, 1991 e 1992. Eu, a última e única menina, sem privilégios, sempre fui tratada por igual – o sonho de muitas feministas e o meu pesadelo. De primos que se parecem irmãos mais velhos, tínhamos um casal.
Todos os anos, exatamente na mesma época de nossas férias escolares, meus pais participavam do ECC - “Encontro de Casais com Cristo”. Eram três dias que passavam fora, voltando apenas à noite para dormir – para eles, alegria; para nossa babá, pesadelo; para nós, diversão.
As coisas mais terríveis nós aprontávamos “coincidentemente” nessa época do ano. Eram pernas e braços quebrados, queixos cortados e infinitos arranhões. Eu, que sempre fui impressionantemente fisicamente flexível, me esquivava desses tipos de lesões. Porém, nunca negava uma boa brincadeira.
Num desses dias, no quintal da nossa casa grande, com todos os irmãos e primos, resolvemos brincar com uma velha caixa cheia de brinquedos. Como a infância faz com gente grande, os brinquedos dos anos que deixávamos pra trás nos acertavam e deixavam marcas – acompanhadas de sorrisos. Mas, como nem tudo são flores, nem tudo ali era brinquedo – “se escondam que eu vou jogar”, gritou o primo mais velho, mas não mais sensato, quando encontrou um pedaço quadrado de madeira. Eu, apressadamente, me escondi atrás da outra caixa que estava no final do quintal e esperei.
Porém, o pedaço do que um dia foi árvore não me esperou. Parecia mágica, ilusão ou mentira (porque milagre não poderia ser): a madeira, ao ser jogada, fez uma curva e uma de suas pontas me acertou à cabeça. Desde criança, aparentando ser forte, sem lágrimas nos olhos, disse “tudo bem” enquanto todos me olhavam com olhos arregalados e tentavam me fazer crer que dali saía sangue. Ainda incrédula, passei a mão no lado esquerdo na cabeça, olhei e a vi completamente ensanguentada. Fez-se, então, o desespero de uma criança no auge dos seus cinco anos. Mais rápida que ambulância, minha mãe chega em casa e me leva para fechar a cabeça. Foram precisos três pontos, uma lágrima e um sorvete de baunilha.
De lá pra cá, em nossas discussões, quando o sangue sobe à cabeça, a lágrima fica prestes a sair dos olhos e o sorvete fica pra mais tarde, não param de usar o argumento que tenho a cabeça fechada.

quarta-feira, 6 de fevereiro de 2013