segunda-feira, 2 de julho de 2012

Um pouco além do praxe

Deixei os versinhos um pouco de lado, porque às vezes eu preciso tentar falar muito falando muito. Até o momento em que eu perceber que estou me repetindo demais ou me perdendo nos sentidos - e talvez isso aconteça desde o comecinho até o fim. Preciso falar pra ver se eu entendo. E, se eu entendo, pra ver se eu faço, ponho em prática, abro mão, corro atrás, sacrifico, me jogo e me seguro. Seguro em Você. Me jogo em mim. Pratico o que eu nunca fiz e faço o que eu não sei. Abro mão do que eu não tenho e corro atrás do que já está comigo. Sacrifico o que não me pertence e aquilo que já te dei - ainda que constantemente eu tente tomar de volta. Você segura forte em mim, não joga fora, me acompanha na corrida, providencia aquilo que irei sacrificar, não apenas abre a mão - a estende, me entende e ensina. Como quando meu irmão tentou me ensinar matemática e a aula terminou em choro meu, eu questiono o porquê das fórmulas. Na recuperação, resolvo prestar atenção aos detalhes do desenvolvimento da equação e percebo que o professor sempre foi bom - eu que não estava disposta a aprender. Ainda assim, o aprendizado nem sempre é suficientemente forte pra apagar os questionamentos sobre o surgimento do problema. Mas funciona perfeitamente como lembrete de que a resposta vem no final. Percebo que a fórmula é também solução. E, aí, entregando a prova nas mãos de quem me ensinou, antes mesmo de receber a nota, eu posso descansar daquela corrida.

Esboço

"A criatura procura seu criador". Li. Pensei. 
Sobre aqueles casos em que familiares se reencontram anos depois do nascimento de um deles. O motivo pode ter sido um abandono, talvez. Porém, por mais perturbador e triste que seja, há casos em que tudo é esquecido depois do primeiro abraço. Com a vontade de recomeçar em uma mão e a certidão de nascimento para ser assinada na outra, os olhos fechados, a boca calada, o coração funcionando loucamente e o pensamento mais perto do que nunca (se fosse longe demais, correria o risco de lembrar que já foi triste), saem do abraço como quando é preciso levantar da cama cedo em um dia de chuva. Sem vontade alguma.  
O ponto (ou as reticências) é que minha certidão está assinada, tenho abraços, colo, apoio e parentes até dizer chega. Conheço a minha história - apesar de sempre esquecê-la quando resolvo contar a alguém sobre as complicações que tive e o trabalho que dei antes mesmo de completar um ano. Mas sei dizer bem quem me segurou, aonde me levou e, principalmente, por quem fui curada. É certo que, ao crescer, outras complicações me surgiram - essas, muitas vezes, provocadas por mim. Que só eu sabia. Era o que eu pensava, quando esquecia.