sexta-feira, 8 de novembro de 2013

quinta-feira, 7 de novembro de 2013

Daqui

Por saber que, ainda que sejamos muitos, sempre teremos um lugar e um modo único de enxergar cada coisa,
eu precisa te escrever como foi viver tudo aquilo do meu lugar.
Na minha poltrona azul não-enumerada, que não ficava na primeira, na segunda ou na terceira fila.
Da minha poltrona, que guardava do lado esquerdo o lugar de alguém - que enxergaria, de um jeito igualmente diferente, tudo aquilo que eu enxergaria também.
Do meu jeito, claro.
Eu vi um homem-urso chorar ao citar a mãe. Vi um outro, que por algum motivo me lembra Cinema Paradiso, chorar ao saber-se homenageado. Em vida.
(homenagem boa é aquela que o homenageado pode chorar, sorrir e, assim, ser grato quando a recebe. Não existe lágrima, sorriso ou gratidão na morte) 
Depois, vi mão pegando pipoca. Aos poucos. Também vi - preferia não ter visto - quando eu, desajeitada, derrubei pipoca no carpete novinho. Vi sorrisos. Descansei.
Finalmente, vi olhos azuis. De bem perto. Tanto que os meus, castanhos, não conseguiam focá-los.
Uma das bençãos de fotografar e de absorver fotografias e olhares alheios é aprender que nem toda fotografia precisa de foco.
E, por vezes, estando o foco à mercê da fotógrafa, ele não fica imune a todo o resto. Às vezes, as mãos se perdem e, por pouco, aquele instante fica assim: blur.
Nesse caso, blue.
Sinto muito.