quinta-feira, 24 de abril de 2014

"Hasta lo amor, siempre!"

Desde que comecei a observar o mundo, percebi que há algo de muito especial no tempo. Ainda que haja formas de medi-lo, não há como contê-lo - e, assim, ele é sempre algo além.

Quase que diariamente, recebo o presente de me espantar com ele. Hoje, constatei mais uma vez: de pessoa a cartão postal (nesse caso, para a minha sorte, ambos), tudo chega em seu devido tempo. Se chega numa quinta-feira, por exemplo, após horas num trânsito a tic-tac de tartaruga, o sorriso é ainda maior e o coração não se contenta em encher: transborda.

"Ao invés do que disse Che, eu diria: 'Hasta lo amor, siempre'". Eu também, Branquinho.

quinta-feira, 12 de dezembro de 2013

Amizade apesar da pós-modernidade

Na falta do tempo estendido 
para fazer o mesmo com os braços,
os olhos se fecham, 
os dedos escrevem e fica a torcida:
sinta-se!
Daqui, do lado - que é tela e não ombro -
a dor também chega
Não me pertencendo, cabe a mim cumprimentá-la
e expulsá-la, fazendo-a bater em retirada. 
Para bem longe de você.

sexta-feira, 8 de novembro de 2013

quinta-feira, 7 de novembro de 2013

Daqui

Por saber que, ainda que sejamos muitos, sempre teremos um lugar e um modo único de enxergar cada coisa,
eu precisa te escrever como foi viver tudo aquilo do meu lugar.
Na minha poltrona azul não-enumerada, que não ficava na primeira, na segunda ou na terceira fila.
Da minha poltrona, que guardava do lado esquerdo o lugar de alguém - que enxergaria, de um jeito igualmente diferente, tudo aquilo que eu enxergaria também.
Do meu jeito, claro.
Eu vi um homem-urso chorar ao citar a mãe. Vi um outro, que por algum motivo me lembra Cinema Paradiso, chorar ao saber-se homenageado. Em vida.
(homenagem boa é aquela que o homenageado pode chorar, sorrir e, assim, ser grato quando a recebe. Não existe lágrima, sorriso ou gratidão na morte) 
Depois, vi mão pegando pipoca. Aos poucos. Também vi - preferia não ter visto - quando eu, desajeitada, derrubei pipoca no carpete novinho. Vi sorrisos. Descansei.
Finalmente, vi olhos azuis. De bem perto. Tanto que os meus, castanhos, não conseguiam focá-los.
Uma das bençãos de fotografar e de absorver fotografias e olhares alheios é aprender que nem toda fotografia precisa de foco.
E, por vezes, estando o foco à mercê da fotógrafa, ele não fica imune a todo o resto. Às vezes, as mãos se perdem e, por pouco, aquele instante fica assim: blur.
Nesse caso, blue.
Sinto muito. 

quinta-feira, 12 de setembro de 2013

Se hoje chover, eu quero me molhar

Na volta pra casa, andando sozinha pelas ruas do bairro onde cresço desde que nasci, peço ao Pai que cuide de mim. Em poucos passos, a resposta: chuva. Muita chuva. Resposta das boas. Daquelas que é necessário calar pra ouvir até o suspiro entre uma palavra e outra.
Eu, desarmada, não me guardo delas. Ainda que tivesse a ferramenta necessária para me manter seca, arrisco dizer que eu preferia mantê-la fechada - como fiz brevemente com meus olhos quando os pingos aumentaram em quantidade e força.
Levantei a cabeça pra sentir por completo o banho que há muito não tomava. Desse banho, a alma é quem sente falta mesmo quando o corpo está cheiroso.
Percebi que ser cuidada requer olhos fechados e cabeça pra cima.

Trouxe a chuva pra casa, minh'alma disse "obrigada" e o coração, esquentando-a, concordou.

domingo, 25 de agosto de 2013

Parcimônia

Enquanto o plástico-bolha é tão eficaz quanto a duração de uma bolha de sabão suspensa no ar - fugaz; a esperança de quem o estoura é tão real quanto a de quem, com a ponta dos dedos, tenta guardar para si aquela forma flutuante de sonho.

Mas - com as pontas dos mesmos dedos - a estoura.

terça-feira, 13 de agosto de 2013

A primeira vez que alguém me ouviu com os olhos



O dia não era pra vencedores.
Naquele corredor, desejando com as mãos e com os pés que aquele momento terminasse logo, constatei com o corpo todo "meu Deus, que menino lindo". Transborda sal com olhos de perdão, gratidão e amor.
Assim mesmo. O combo infalível. Não seria eu, por mais forte que eu possa parecer, que resistiria. Apesar de querer às vezes.
Olhos mais doces que eu já vi me vendo.
E, para minha surpresa, me ouvindo.
"Me faz muito bem olhar pra os seus olhos. Sei que você tá me dizendo alguma coisa. E eu espero estar respondendo, porque é muito forte".

Certeiro assim. Lindo assim.

quinta-feira, 1 de agosto de 2013

Homework

No fim do dia, me sentia como quem passa o dia inteiro do lado de fora, tragando rastros de tudo ao redor. A fumaça do cigarro alheio, o amor em outros braços, a dor de cabeça do trânsito infernal, as nuvens e os pingos que eventualmente caem. Em tempos de "inverno", chuva. Em tempos difíceis, lágrimas. 
Não faz diferença se meus pés pisaram outros chãos ou se ficaram de um lado para o outro no meu apartamento quando a cabeça tem visão privilegiada das nuvens, o coração se prepara para correr maratonas e os meus olhos conversam entre si - quando sem os seus.

quarta-feira, 10 de julho de 2013

Pr'aquela que consegue voar, Taynara

Molinha de braço e coração, carrega no sorriso a força suficiente para manter as pernas curtas não só em pé mas caminhando. Marcada pela distância e pelos desenhos na pele, as pernas largam o "r" e se fazem pena quando se quer voar - ainda que com medo. Assim, se faz agradavelmente perto daqueles aos quais tem. No coração. Ali, os faz âncoras e joga também a sua, do Sul ao Nordeste. 
Grata por fazer parte dos poucos que se fazem porto, retribuo de braços, ouvidos e coração abertos, com o desejo de querer permanecer e constatar, daqui há vários filhos, netos e bisnetos - anos - que ainda és minha amiga mais moderninha. 
Let it be!

domingo, 7 de julho de 2013

De glória em glória, Glorinha


Do sorriso largo e amor às palavras que nos é comum e do gosto de infância que temos nos abraços e nos dedos, colhemos as carreiras debaixo dos pingos, o compartilhamento do guarda-chuva e as mínimas evidências de poesia-flor que encontramos por aí.
Se o presentear com prosa já era parte do meu existir, com Glória, tenho aprendido a concretizá-lo. Prova disso é isto. 
Agora, com a certeza de que dividiremos ainda muitas estações (sejam elas 5122, verão, inverno, primavera ou outono), desejo não só a força necessária para as corridas que a rotina apertada, os raros ônibus para viagem de volta, a chuva e a idade nos exigem, mas, principalmente, a força suficiente para exercitar 400 músculos apenas com sorrisos ininterruptos.

quarta-feira, 29 de maio de 2013

Aceito



Quando não caibo em mim,
Quando o mundo a mim não cabe.

Quando não caibo no mundo.

(Quando) a maré sou eu.
nadar contra torna-se uma modalidade na qual sou campeã.
em ficar no lugar mais baixo do pódio.

Mesmo não havendo rivais.

As raias nunca impediram que eu nadasse do meu jeito.
Torto.

Andar de bicicleta passa fazer mais sentido.

S o l t o o guidom.

sábado, 25 de maio de 2013

"I'm just an old chunk of coal..."*

Das coisas que me restam, às vezes não quero nada.
De mansinho, meio verdadeira, meio hesitante, meio como uma meia certeza, me vem a vontade de só, sozinha, sonhando, sendo, vivendo de verdade, chegar Lá.

Lá, ouvi-Lo me chamar pelo nome e, pegando no meu rosto com as mãos de quem já passou por tudo bem antes de mim - e não apenas sobreviveu mas reviveu, dizer:

"acabou chorare, ficou tudo lindo".



*"...But I'm gonna be a diamond some day".